Em clima de olimpíadas: relembre as crônicas escritas pelo diretor da EOM Brasil em 2016

Em clima de olimpíadas: relembre as crônicas escritas pelo diretor da EOM Brasil em 2016

Se você está na internet ou faz parte do universo dos esportes, já deve ter sido dominado pelo espírito olímpico. O evento mundial mexe com os ânimos e envolve até quem não costuma acompanhar as competições esportivas que acontecem ao longo do ano. Também entramos no clima das olimpíadas de Tokyo e nos lembramos da experiência vivida pelo Dr. Rogério Queiroz, Diretor da EOM Brasil há alguns anos.  

Enquanto participava dos Jogos Olímpicos de 2016, que aconteceram no Rio de Janeiro e encantaram o mundo inteiro, o Dr. Rogério Queiroz trabalhou com outros fisioterapeutas e, juntos, uniram a fisioterapia e osteopatia em prol do bem comum dos atletas. A vivência foi importante para a Escuela de Osteopatía de Madrid, que teve um representante participando das olimpíadas, mas principalmente para o profissional, que viu na prática o valor da osteopatia para os atletas. 

Ficou curioso para saber como foi essa experiência? Leia as crônicas olímpicas, publicadas originalmente em uma rede social do Dr. Rogério Queiroz! 

01

Na noite anterior fiz mil planos, acordar às 06:00h da manhã, fazer uma caminhada e alongamentos, quem sabe um trote leve e alguns exercícios mais intensos. Tudo isso antes de sair para a reunião que tinha agendado.

Diferente do planejado, ao acordar já estava atrasado, não deu tempo de fazer exercício nenhum e tive que sair correndo para minha reunião, que aconteceria na sede da EOM Brasil no Rio de Janeiro. Fiz questão de usar o transporte público por três motivos, primeiro o de não pagar R$ 90,00 de táxi como no dia anterior, segundo porque como voluntário temos um passe, que nos permite a gratuidade no BRT e no metrô, além de usar vias que ainda estão fechadas ao público comum (impressionante como gostamos de nos sentir exclusivos!!!) e terceiro para experimentar como ficou tudo isso após as reformas no Rio.

Imaginava gastar por volta de uma hora, mas ao final foram duas horas entre 2 BRTs e duas linhas de metrô. Conclusão, cheguei atrasado à reunião! Já na escola, me reuni com o diretor geral da escola, Ginés Almazán, e tive o privilégio de estar com fisioterapeutas destacados do mundo do esporte, conversar com eles e também assistir trechos de suas palestras, que serão publicados no 1º Congresso Internacional On-line de Fisioterapia Deportiva y Juegos Olímpicos. 

Me encontrei também com a Dra. Denise Flávio, presidente da AFB, que falou sobre o Congresso Brasileiro de Fisioterapia que acontecerá agora no final do mês em Recife.

Por chegar atrasado, acabei também saindo mais tarde do que o previsto, e entre atraso e transporte público do Rio 2016, não só não deu tempo de almoçar como cheguei atrasado ao meu primeiro dia de voluntário de osteopatia…PÉSSIMO!!!

Pra piorar, estava atuando por lá um osteopata britânico que já havia participado da olimpíada de Londres 2012, e vocês sabem como são os britânicos com a pontualidade…na hora, me caiu como um chumbo na cabeça como no geral nós brasileiros lidamos mal com nosso tempo!!! Somos extremamente otimistas achando que tudo vai dar certo, mas não tomamos as precauções para que isso ocorra. Somos movidos pelo desejo e não pelo viável!

Chegando por lá, comecei a ficar ansioso, pois eram poucos os casos direcionados à osteopatia. Se estou sozinho em um lugar tranquilo, adoro não fazer nada, mas estar à toa no ambiente de trabalho me deixa bem inquieto. Para mim, porém, o maior choque foi ver a diferença entre a expectativa que eu tinha sobre os atendimentos e o que realmente aconteceu…

Acho que todos, como voluntários nas olimpíadas, esperam estar ao lado dos grandes nomes das competições. Todos querem tratar o Usain Bolt, o Nadal, O Michael Phelps e para alguns até mesmo o Neymar serve. Devo confessar que minha expectativa não era muito diferente, eu desejava estar lado a lado com esses gigantes e ajudá-los a chegar ao ouro olímpico. Seria como chegar ao ouro também!!! 

Nosso ego é ardiloso e faz com que queiramos sempre estar em evidência. Faz com que queiramos nos destacar e estar por cima…Com o passar dos minutos na policlínica, foi-nos explicado que todas as grandes delegações e atletas de destaque têm sua própria delegação de saúde e que esses atletas não recorrem à policlínica!!!

Quem nos procura na policlínica, em geral, são os atletas cujos países não têm condições econômicas de levar profissionais da saúde para os jogos. Dessa forma, acabamos atendendo justamente os atletas com pouco destaque nos jogos…Num primeiro momento foi um balde de água fria para a expectativa inicial, mas com o passar do tempo, me dando conta do esforço desses atletas que trabalham sem recursos em seus países e que, de certa forma, precisam se dedicar o dobro para ter o mesmo resultado, fui entrando no clima do verdadeiro voluntariado.

Olhei para os lados e vi os outros profissionais que já estavam a mais tempo nas olimpíadas e a forma como se dedicavam aos atletas e o jeito apaixonado que o faziam. Esse sentimento é contagiante e uma vontade de cuidar do outro surgiu de maneira tão forte, que não restou outra opção ao ego senão se esconder no bolso e ficar quietinho. O resto do dia foi muito mais legal, atendendo atletas dos cinco continentes num mesmo dia!!!

Além de muito gratificante, está sendo uma experiência de muito aprendizado. O respeito entre os profissionais da saúde é acima da média por aqui. O foco é o atleta e não o ego ou título de ninguém!

Por tudo isso, antes de dormir resolvi não fazer planos mirabolantes para hoje, me permiti acordar mais tarde e compartilhar essas experiências com vocês antes de sair para me mexer um pouco.

02 

Pra começar, queria dizer que foi uma tremenda surpresa o número de curtidas e de comentários da postagem de ontem! Vejo fotos e vídeos com milhares, ou até milhões de visualizações, citações engraçadas e coisas do tipo, mas de verdade eu pensava que ninguém lesse textos que fossem além de um parágrafo.

Foi uma grata surpresa que me rendeu alguns sentimentos. Primeiramente, sentimentos como de alegria por ver que estava errado (às vezes, eu gosto de estar errado rsrsrs), sensação de ser acolhido, de fazer parte (parecia que havíamos criado um grupo com vontade de compartilhar aprendizados), mas depois, com o passar do dia comecei a entrar em pânico… ai meu deus, o que vou escrever amanhã???

Parecia que nada que acontecia no dia tinha graça suficiente, ou fosse de interesse geral. Minha expectativa por conta de terem gostado do primeiro texto era a de que o segundo teria que ser tão bom quanto ou melhor!!! Ferrou, me bloqueei!!! Dormi mal essa noite pensando nisso, acreditam? Fiquei com a mesma sensação de quando ia competir nos meus tempos de atleta, ou mesmo hoje, quando vou dar uma aula ou participar de um congresso… pouco antes de entrar em cena eu penso: “Por que que eu me ponho nessas situações??? Será que dá tempo de desistir???”. No final acabo não desistindo e curtindo a experiência, ou detestando e aprendendo com ela rsrsrsrsrs.

Essa manhã, falei pra Clau (minha esposa e companheira de jornada) que estava bloqueado e que não sabia o que fazer e ela, como costuma fazer, me deu uma chave super importante, disse: “Ué, não escreve hoje, então!”. Caiu como um chacoalhão!!! Claro! Eu não tenho obrigação de escrever, mas me impressionou como fiquei refém de mim mesmo, que por dizer que faria algumas “crônicas olímpicas”, já me coloquei os grilhões da obrigatoriedade, como costumo fazer.

Saber que tinha a opção de não escrever me desbloqueou e cá estou eu escrevendo mais do que deveria até! Por isso, vamos ao que interessa!

Ontem o dia começou muito mais leve. Depois de acordar, tomei café da manhã e escrevi o texto pra vocês. Mal publiquei e uma torrente de comentários começaram a aparecer. Eu comecei a responder e responder e responder… até me dar conta que estava quase em cima da hora para sair para a Vila Olímpica! Eu tinha pensado em chegar com pelo menos meia hora de antecedência para poder curtir um pouco o movimento da Vila e tirar algumas fotos pra publicar aqui. Parei de responder às mensagens e fui correndo me arrumar.

Mais uma vez, não deu tempo de almoçar, mas eu já estava cheio de outra forma, os comentários recebidos foram uma tremenda nutrição, como diziam os Titãs: “Você tem fome de que?”. Acho que estava de alma saciada pelo clima carinhoso e fraternal vindo de quem havia lido o texto. Duas coisas que podem substituir uma refeição são dormir (como dizia minha avó) e estar encantado por algo. Ontem estava encantado com os comentários.

Saindo do apartamento onde estou hospedado, peguei novamente a sardinha olímpica, apelido gentil ao BRT (pode-se dizer que é um metrô sobre pneus, ou um ônibus enorme metido a besta, dá na mesma), parece aqueles metrôs japoneses em que todos se espremem. Para levantar ou abaixar o braço precisa esperar abrir a porta na estação e o povo se deslocar um pouco.

Cheguei a tempo para minha escala e, com gosto, a primeira coisa que fiz foi olhar profundamente nos olhos do osteopata inglês e dizer mentalmente a ele: “Viu, cheguei três minutos adiantado!!!”. Tenho certeza que ele entendeu minha expressão, porque metade do olhar de superioridade dele foi embora naquele instante! Mal sabe ele que eu havia me planejado chegar meia hora antes, mas tudo bem eu vou aperfeiçoando isso…

No meu segundo dia, estava mais orientado na forma de atuar e foi tudo mais tranquilo. Os atendimentos foram fluindo bem e tivemos um momento interessante onde se juntaram a equipe de médicos, fisioterapeutas, quiropráticos e osteopatas para uma palestra. Na entrada, foram distribuídos alguns ingressos grátis aos voluntários, o que achei bem legal, mas com a sorte que tenho, ganhei ingresso para assistir à luta livre no horário da minha escala de trabalho!!! Que raiva!

Dois casos me chamaram a atenção, o primeiro de um corredor de 100m rasos (não posso citar nome nem país pois sua prova ainda não aconteceu), que durante os treinamentos aqui no Rio teve uma distensão da musculatura posterior da coxa e estava praticamente fora da olimpíada. Fiquei pensando o que seria treinar por toda uma vida, para quase no final acontecer uma coisa assim. Acontece que a equipe de fisioterapia já vinha trabalhando com ele havia alguns dias e tinha tido uma melhora fenomenal!!! Ontem, então, trabalhei reorganizando quadril, joelhos e pés e ao final disse não estar sentindo mais nada (importante destacar que o mérito foi dos fisioterapeutas que devem ter feito 95% do trabalho, eu fiquei com o ajuste final só).

Perguntei pra ele qual tempo deveria fazer nas eliminatórias para conseguir chegar na prova final e me contou que provavelmente abaixo de 11,5s. Perguntei qual era o tempo normal dele e me disse…10,3!!! Ou seja, o cara corre muito!!! Vamos ver o que vai acontecer nas eliminatórias. 

O outro caso foi o de uma atleta da Mongólia, de tiro com pistola. Tinha muuuuita dor cervical e em punho direito, perguntei a ela em que classificação havia ficado e ela me disse que ficou em vigésimo lugar. Falei que ela devia estar orgulhosa de estar nessa posição, pois de todas as atiradoras do mundo ser a número 20 não era fácil. Foi daqueles momentos em que se perde a incrível oportunidade de ficar de boca calada…Essa atleta nas olimpíadas passadas ficou em segundo lugar!!! Ela estava super triste de ter tido um resultado tão ruim e que muito disso era por conta das dores! 

Não passou pela cabeça dessa besta que vos fala que uma atleta da Mongólia poderia ser das 3 melhores atletas do planeta! Erro feio de menosprezar atletas de países com poucas condições. No final do tratamento ela estava feliz por ter melhorado 90%, e eu fiquei me pensando o que aconteceria se tivéssemos podido trabalhar antes da prova dela… daqueles “e se…” que nunca saberemos.

03

Ontem, depois de escrever a crônica do dia, me levantei correndo para colocar em prática o que me havia proposto. O plano era relativamente simples: banho, me trocar, almoçar (não queria ficar sem almoço pelo terceiro dia consecutivo) e correr para a Vila Olímpica pra chegar antes do osteopata inglês!!!

Banho tomado e trocado, parti para o almoço, onde encontrei um ex-aluno da escola de osteopatia que se chama Rogério como eu (humm, muita coincidência, hoje o dia promete! kkkk impressionante como tentamos encontrar sinais e significados em tudo o que nos acontece. A casualidade e a aleatoriedade são duras demais pra gente). Papo rápido, assim como o almoço para não perder o foco da minha missão principal.

Ao invés de ir de ônibus pensei em pegar um táxi até a estação de transição para economizar tempo. Subo no táxi e lá vamos nós. Quando digo pra ele parar que é ali que quero descer, ele diz que ali não dá e só consegue parar comigo muito a frente fazendo com que eu tivesse que andar praticamente a mesma coisa que se tivesse ido de ônibus, mas com a diferença de que além de pagar R$ 15,00, ainda fiquei parecendo uma galinha tentando atravessar a rua na Avenida das Américas com os carros em grande volume e alta velocidade. Coisa de brasileiro que ao invés de andar mais cinco minutos para cruzar na faixa de pedestres tenta sempre um atalho (maldita cultura essa!).

Depois do stress, cheguei à estação e, enquanto esperava o BRT, abri o Facebook por curiosidade em ver se alguém havia lido o texto e nova surpresa, ainda não era notícia velha, muita gente já estava lendo e comentando. (Só pra esclarecer, essa é uma experiência nova pra mim, mas que está sendo deliciosa e quero agradecer cada um que para sua rotina para ler e comentar).

Resultado dessa minha perda de foco foi pegar o BRT errado e me perder!!! Ai meu deus, o inglês vai me julgar de novo! Desço do BRT, vou me informar do que fazer e confirmo uma percepção que já tinha tido: apesar das linhas estarem funcionando, o treinamento das pessoas foi muito insuficiente! Quase ninguém sabe dar uma informação acertada, está muito confuso para quem não é daqui entender como funciona a rede e como se mover nela.

No final das contas descobri que esse “caminho errado” é até mais rápido do que eu vinha fazendo nos dias anteriores!!! Típico desses tropeços da vida que nos levam para melhores paragens. Resultado concreto… cheguei na Vila Olímpica meia hora antes do horário!!! Tirei algumas fotos e fui para a policlínica aguardar o inglês… hoje ia ser meu dia de esperá-lo e olhá-lo como quem diz: “Você foi bem, mas não o suficiente…” kkkkkk Porém quando entro na policlínica descubro que o inglês teve sua escala alterada e já tinha ido de manhã!!!

Preferi pensar que ele começou a sentir a pressão! rsrsrs Falei tanto do inglês, mas a verdade é que ele me ajudou muito. Ele é um osteopata com muita experiência e me orientou muito com relação a todos os procedimentos no primeiro dia. Ele foi ótimo e é uma pena que teve que mudar seu horário. Ontem, houve uma mudança grande de staff entrando vários fisioterapeutas novos, muitos dos quais já conhecia, o que deixou o trabalho mais ágil e os resultados mais interessantes!

Está sendo uma grande experiência trabalhar lado a lado com eles, como sua especialidade na fisioterapia é justamente o esporte, eles entendem muito mais do que eu sobre tempo de recuperação tecidual, fortalecimento muscular e de eletro-termo e fototerapias. Aliás, é uma vergonha. Eu não tenho competência nem pra ligar os aparelhos!!! Não faço a mínima ideia de frequências, dosagens, tempo, etc…

Durante minha formação em fisioterapia, fiz uma formação de dois anos de acupuntura e ao terminar a fisio, eu já ingressei na osteopatia, assim eu nunca trabalhei com a fisioterapia tradicional. Ter esse grupo super qualificado para suprir minhas debilidades foi um alívio e os resultados se mostraram extraordinários.

Ontem atendi um atleta de Luta Livre que ainda vai competir. Chegou com muita dor, não podendo quase mover a cabeça e os ombros. Eu e o Jean Zipperer trabalhamos com ele. O cara é um monstro de forte e antes de tocá-lo eu me certifiquei bem de que ele havia entendido que eu ia tratá-lo e não lutar com ele, afinal, às vezes uma manobra osteopática pode parecer um golpe rsrsrsrs. Fiquei imaginando a cena dele levantando da maca e me atirando no chão! Não ia sobrar nada de mim! 

Bom, trabalhamos e ao final estava praticamente assintomático. Depois do tapa na cara com a atleta da Mongólia, fui mais cauteloso e perguntei qual era a expectativa dele nas olimpíadas e ele contou que já foi medalha de prata em outra olimpíada e ouro no mundial!!! Ainda bem que a gente apanha, mas aprende, não é? Estamos todos da policlínica torcendo por ele.

Sobre o atleta dos 100m que comentei ontem, ele infelizmente sentiu a perna durante a prova e não se qualificou para a final. Ao saber, fiquei muito triste, mas a tristeza se transformou em uma emoção indescritível quando esse atleta foi mais tarde à policlínica para agradecer os cuidados recebidos, só de lembrar agora me emociono novamente. Ele é da Palestina e fiquei pensando as dificuldades para chegar onde chegou e de não poder estar na final por uma lesão (aliás corrigindo o post de ontem, a velocidade que ele costuma fazer é entre 10,03 e 10,05 e não 10,30 como coloquei), mesmo no meio de tanta tristeza ele fez questão de vir e agradecer todo o trabalho realizado.

Ele parecia tranquilo, porque havia feito o seu melhor e sua expressão mostrava que ele sabia que tínhamos feito nosso melhor também e que então estava tudo certo, como deveria ser. Foi um momento especial coroado com o cachecol que presenteou os membros da policlínica e que poderão ver nas fotos. O dia seguiu de muito trabalho e interação entre a equipe, o tempo todo há interação entre médicos, fisioterapeutas, osteopatas, quiropráticos e massoterapeutas numa dinâmica muito boa. A tragicomédia do dia aconteceu no momento em que estávamos fazendo nossa reunião final do dia e chegou um atleta do Egito.

Nos dias anteriores alguns atletas chegaram atrasados, fazendo com que ficássemos além do horário previsto, e haviam nos orientado a não fazer mais isso. Quando esse atleta chegou quase todo mundo começou a dizer: “Desculpe, mas já encerramos por hoje. Volte amanhã cedo”. O coitado, que falava muito mal o inglês, tentava se explicar e mais uma vez repetimos que já tínhamos terminado, até que ele por fim conseguiu fazer nosso bando de cabeças duras entender que ele estava ali apenas para agradecer os fisioterapeutas que o tinham atendido, pois antes do tratamento ele não estava conseguindo levantar peso (sua modalidade) e que após ele se superou e ficou em quinto lugar no levantamento de peso e bateu seu recorde pessoal! Mais um tapa na cara, mas pelo menos dessa vez foi em grupo! rsrsrsrs

Foi o fechamento com chave de ouro para um dia de muito aprendizado. Tiramos foto com o atleta, que estava muito feliz, tinha dado o melhor de si e isso no final é o que importa. Como posso hoje ser um pouco melhor do que ontem? Colocar isso em prática poderia nos fazer crescer de forma espantosa.

Pra terminar esse texto, falta dizer que para estar aqui tive que abrir mão de algo que pra mim é muito importante, que é a companhia dos meus filhos no dia dos pais. Por um lado, acho que ficam tristes de que eu esteja viajando nessa data, que talvez pensem que optar em não estar signifique que eu dou pouca importância a eles. Esse é um risco que tenho que assumir pensando que, o outro lado da moeda, é o de mostrar a eles que, às vezes, temos que nos entregar à situações que são maiores que nós, que entre nossos desejos e nossa missão a segunda deve prevalecer.

Apesar das minhas trapalhadas e dos meus tropeços, tenho em mim a profunda convicção de que quero deixar um exemplo positivo aos meus filhos e um mundo melhor para eles. O amor que sinto por eles transborda qualquer explicação na qual eu tente encerrá-lo. Para quem não tem filhos nem vale a pena tentar explicar, é algo único. Por isso meus amores queridos, Pietro Queiroz e Luca Queiroz, saibam que apesar de longe meu coração está ligado no de vocês e que não só hoje, mas todos os dias vocês são duas das luzes que me guiam no meu caminho por aqui.

Nenhuma descrição de foto disponível.

04

Mais um episódio das sagas olímpicas! Depois de dois dias sem escrever, lanço o desafio novamente para que cheguem ao final do texto pois tenho a sensação de que este será grande. Penso isso porque muita coisa aconteceu de lá pra cá e porque estava com saudade de escrever, portanto, aguentem! rsrsrsrs

Nesses dias, percebi que algumas coisas se estabilizaram, não tive problemas de transporte, nem de atrasos, apesar do inglês já não estar mais no mesmo período que eu (mais estórias com o inglês adiante). A rotina passou a acontecer dentro do esperado, o que me permitiu a começar perceber nuances que até então estavam meio nubladas. A primeira delas, e que me pareceu super interessante, é que descobri que não são apenas os atletas que ganham medalhas! Nós profissionais da saúde também ganhamos!!! 

Acontece que nossas medalhas são os pins e outros presentes que ganhamos dos atletas em reconhecimento ao nosso trabalho. Me dar conta disso trouxe mais uma vez a beleza e o divertido de algumas situações. A beleza da dedicação dos profissionais que de verdade se entregam no tratamento dos atletas e também do reconhecimento desses atletas, que nos presenteiam e honram com os pins ou outros presentes de seus países. A coisa começa a ficar divertida quando esses profissionais começam a pendurar esses pins em suas credenciais e parecem os atletas que ficam andando com suas medalhas no peito. 

Certeza que não fazem por maldade, mas o que acontece a partir daí fica ainda mais divertido!!! Os primeiros fisioterapeutas a chegar e que começaram a ter contato com os atletas acabam ganhando esses pins antes e aí, quando chega um novato (como eu nos meus primeiros dias) e olha tudo aquilo, parece até que é um soldado trabalhando com os coronéis e generais da fisioterapia! kkkkkkkk Com isso, pude perceber como sou competitivo! Normalmente sou aquele competitivo velado, não declarado, que quem olha nem pensa que está ligado nisso, mas a verdade é que estou! Me faço de dissimulado mas dou um jeito de sempre chegar ao pódium. 

Acho que meu cérebro primitivo não suporta muito estar para trás, imagina, então, ver outros com tantas medalhas no peito e eu com apenas duas, as que TODO voluntário ganha quando começa a participar, ou seja, era a mesma coisa que nada!!! Desespero total. Comecei a pensar como fazer para conseguir o raio dos pins! Nos primeiros dias, frustração total, os atletas chegavam, eram atendidos por mim, falavam tchau e nada de pin, ficava ao mesmo tempo decepcionado e pensando que os paciente gostavam apenas do tratamento dos outros profissionais. Assim foram alguns dias de angústia, até começar a perceber duas coisas, a primeira foi a de que os profissionais que eram presenteados já tinham atendido aqueles mesmos atletas várias vezes antes de ganhar algo e a segunda e mais importante era que…vários deles pediam os pins de presente!!! kkkkkkkkkk 

Até então não passava pela minha cabeça pedir algo dos atletas, achava que ganharia única e exclusivamente se eles achassem que eu merecia, e que não tinha merecido ainda!

Parece que, a partir daí, foi um passe de mágica. Comecei a ganhar vários pins e em algumas situações a pedir quando me dava vontade e sentia que o atleta estava aberto para isso, foi ficando algo natural, uma troca sem pressões. Sei que parece uma bobagem, mas são pequenas coisas que me mostram no dia a dia quando ainda preciso desbastar muitas arestas.

Lendo as mensagens de várias pessoas que me responderam sobre os posts anteriores percebi também que começam a desenhar uma figura minha que não condiz com a realidade. Parece que eu sou uma pessoa super humilde, que penso só nos outros e coisas desses mestres evoluídos, quando, na verdade, estou bem longe disso. Como disse antes, sou super competitivo, por exemplo, não quero que minha escola de osteopatia seja apenas mais uma escola, quero que seja uma super escola, que seja uma referência. Eu gosto de um bom vinho, se for pra tomar vinho ruim prefiro não tomar. Acho que a busca da excelência, mesmo que em muitos âmbitos seja lenta, é algo que só traz recompensas.

Não sou uma pessoa fácil, basta meia hora de conversa com minha esposa ou com alguém que trabalhe perto de mim e vão confirmar isso. kkkkkk Sou possessivo! Para cada aluno que dou aula, me sinto como se fosse um pouco pai deles! Cada paciente que atendo, sinto que sou responsável por ele. Nessas olimpíadas até isso tive que trabalhar. Às vezes, atendia um paciente que depois agendava outro dia e era atendido por outro osteopata!!! Como assim!!! Ele é MEU paciente!!! kkkkkkk Ou seja, descobri que sou ciumento até com os pacientes.

Nessas olimpíadas, tive que aprender a soltar esses pacientes para outros profissionais e confiar que fariam um bom trabalho. O mais engraçado é que não me acho melhor que nenhum outro profissional, mas é como se eu pudesse cuidar menos dessa pessoa que eu passei a gostar tanto. Não sei se me entendem…talvez, seja pura loucura minha! Só sei que tento nortear minhas ações a partir de uma máxima: “Se vai fazer, faz direito!”. Sendo assim, já que estou na clínica, quero trabalhar muito, quero ver muitos pacientes!!! Quero ser o profissional que veja mais pacientes no dia! Ops…olha meu lado competitivo aí de novo!!!

Então, fico rodando a clínica, conversando com os colegas e propondo de trabalhar com os pacientes deles também. Logicamente, nos casos em que percebo que meu atendimento traria um benefício significativo. Assim, acabo atendendo muitos pacientes todos os dias e isso é ótimo! Ótimo, porque fico aborrecido quando fico sem fazer nada. Ótimo que posso ajudar mais gente e ótimo que aumentam minhas chances de ganhar mais pins! KKKKKKK

Dentro da minha rotina de dias, ainda não consegui introduzir os exercícios, me parece que isso é um problema muito mais profundo que terei que trabalhar mais pra resolver, mas tudo bem, uma coisa de cada vez. Ontem cheguei bem mais cedo, queria acompanhar o inglês atendendo, ele é um dos grandes nomes da osteopatia esportiva e queria aprender com ele. Estava contente por ver uma abordagem diferente. Chegando na clínica, ele se assustou um pouco em me ver por lá, mas o susto durou poucos segundos, pois quando cheguei e disse que tinha vindo mais cedo para poder acompanhá-lo, ele disse que estava aliviado em me ver, pois o outro osteopata da manhã não tinha ido e ele estava sobrecarregado. Resultado, me pôs para trabalhar e não pude ficar com ele!

Ontem, no final das contas, foi meu recorde pessoal de atendimentos. Foram 15 atletas!  Estava muito feliz, até me lembrar que tinha que preencher todas essas fichas e lançar depois no computador…essa é a parte triste dos atendimentos, a burocracia! Precisam desses dados para, ao final do evento, entenderem como foi o fluxo de pacientes na policlínica. Entendo, mas a tarefa continua sendo muito chata e demanda muito tempo. Ontem, no final do expediente, achei que não fosse dar conta de cuidar dessa papelada. Estava cansado, atrapalhado e preocupado em como faria para organizar aquilo para o pessoal do dia seguinte. Eis que surge um anjo naquele momento! O Danilo, fisioterapeuta do tipo que trabalha sem fazer alarde, competente, tranquilo e de paciência e disponibilidade infinitas.

Veio tranquilo e me perguntou como poderia ajudar. Eu, a princípio, pensei que nem dava pra me ajudar, mas ele insistiu e começou a preencher o cabeçalho das fichas, foi organizando o meu pensar e me motivando na tarefa. Quando me dei conta estava terminado! Eu gosto de prestar atenção nessas coisas, pois são elas que nos trazem exemplos, inspiração e aprendizado. Valeu, mestre Danilo! 

Falando em inspiração, gostaria de citar outra figura que desde o primeiro dia me chamou muito a atenção, mestre Marco Antônio Alves, que com seu jeito brincalhão cativa toda a equipe de comandados. Em uma mesma pessoa, consegue juntar: conhecimentos profundos em sua área, carisma, dedicação, empatia, mão na massa, entusiasmo e liderança. Vou me esforçar pra um dia chegar nisso. Acho importante sabermos quem são as pessoas que nos impulsionam a sermos melhores.

E vocês, quem são atualmente as pessoas que os inspiram pessoalmente e profissionalmente? Como disse, são aprendizados e aprendizados por aqui. Quem tem olhos que veja!

05

Depois de seis dias de ralação na policlínica, ontem foi dia de folga e de viver a saga olímpica de outra forma, mas igualmente emocionante. Acordei tarde, pois fui dormir tarde. Estou hospedado na casa dos meus tios e foi o primeiro dia que pude conviver um pouco mais com eles. Batemos um longo papo, sentei para escrever as crônicas do dia anterior e depois saímos para almoçar juntos em um restaurante super gostoso no Rio Design. Durante o almoço, recebo uma mensagem de um grande fisioterapeuta, que agora considero também um grande amigo, o grande Fábio Sprada de Santa Catarina. Ele sabia que em meus dias aqui no Rio não teria a oportunidade de conhecer o Parque Olímpico e, como grande pessoa que é (a repetição da palavra grande é proposital mesmo, tá? É pra reforçar a grandeza desse cara!), me ofereceu um ingresso que tinha para o jogo de handebol às 20:30h da noite.

De cara, parece um gesto simples, mas ele correu atrás desse ingresso para que eu pudesse ir, foi ele que conseguiu para mim. No começo fiquei sem graça de aceitar, afinal ele perderia a partida, mas depois me comentou que assistiria outro jogo pela tarde. Fiquei animado com a notícia. Terminamos de almoçar e demos uma volta pelo shopping.  Já em casa, comecei os preparativos para ir ao Parque Olímpico. Banho e roupa (que na hora que coloquei achei que estava super apropriada…), saio em direção ao complexo e me dou conta de que, deixei meu passe para o BRT normal e para o BRT Olímpico na jaqueta do voluntariado.

Paro no meio da rua e penso sobre o que vale mais a pena, voltar, pegar o cartão e correr o risco de me atrasar, ou simplesmente pagar um bilhete? Acabei optando por pagar o bilhete e chegando na bilheteria acontece o primeiro problema. Digo para a “doce” senhora que me atende que preciso de bilhetes para ir e voltar do Parque Olímpico, ela “super” atenciosa me pergunta se eu tenho o cartão (coisa que eu achei que era óbvia que eu não tinha), digo que não e ela me diz que os bilhetes de ida e volta mais o cartão ficam em R$ 10,60. Dou uma nota de R$ 20,00 e ela fala que não tem troco, se pode colocar mais crédito no cartão. Não queria mais crédito no cartão, pois tenho o cartão de voluntário que me permite ir e vir de graça e nisso ela já chama o próximo da fila dizendo que não tem como resolver meu caso. Nesses momentos fico entre a raiva e a pena sempre. Já ia apelar para os direitos do consumidor quando a pessoa que estava atrás de mim e viu a história toda paga com um monte de moedas para ela ter troco. 

Compro o bilhete, espero o BRT, entro no BRT e vivo uma das cenas mais insólitas da minha vida! Na estação seguinte, apesar do veículo já estar lotado, forçam a entrada um grupo de pessoas quase esmagando os que já estavam dentro. Eu queria tirar uma foto, mas não dava, porque não conseguia baixar a mão que estava levantada, nem levantar a que estava baixada, quanto mais pegar o celular no bolso. Estávamos realmente colados uns nos outros e se antes eu já havia apelidado o BRT de lata de sardinha olímpica, agora a expressão ganhava patamares ainda maiores. Nessa situação, fiquei meio constrangido, porque havia uma mulher de costas para mim, grudada em mim, e que eu tinha vontade dizer: “Olha, fica tranquila que é a minha carteira em ai na frente”, mas achei que só ia piorar a situação e resolvi ficar quieto. Duas estações depois algumas pessoas desceram e foi possível tirar a foto, já com menos pessoas no vagão.

Na parada seguinte desci na estação Alvorada, lá temos que caminhar uns 10 minutos para chegar à estação Jd. Oceânico para então pegar o BRT Olímpico para o Parque Olímpico. Ao tentar passar pela catraca, sou bloqueado por insuficiência de saldo, pergunto para uma funcionária o que está havendo e ela me diz que o que a “doce” senhora me vendeu eram apenas as passagens de ida e volta da linha do BRT normal e não da linha do BRT Olímpico!!! Consternado, para não dizer p…da vida, pergunto à funcionária o que fazer e ela me dá duas opções, a primeira voltar à estação Alvorada e comprar lá duas passagens o que significaria 10 minutos de ida + 10 minutos de volta + tempo da fila e de comprar, ou comprar ali com ela mesmo um cartão para todo o dia (apesar de que usaria por só 3 horas) pela bagatela de R$ 25,00.

Como já não tinha mais tempo, ou me atrasaria, paguei os R$ 25,00 e fiquei repetindo mentalmente que tudo estava bem, pois o ingresso tinha sido de graça. Conclusão dessa primeira parte da estória: pra fazer tudo isso, acabei gastando mais tempo do que se eu tivesse, lá atrás, voltado para pegar meu cartão de voluntário e gastado R$ 35,60 que não precisaria ter gasto. Típica história da pressa somada à preguiça, que nos faz tomar as decisões que na hora parecem melhores, mas que no médio e longo prazo, são um desastre e que, para ficar ainda mais ridículo, ficamos pensando “pelo menos o ingresso foi de graça e não vou chegar atrasado”, como prêmio de consolação ou auto indulgência para não ter que lidar com a própria incompetência. rsrsrsrs

Mas tudo bem, por outro lado, estava chegando ao Parque Olímpico!!! Desci da estação e caminhei uns 15 minutos até onde combinei de me encontrar com o Fábio e outro fisioterapeuta que estava com ele, o Albino, outra figura que conheci nesses jogos e pareceu ser muito bacana (bacana é gíria de velho, né?). Com ingresso em mãos, adentro o Parque Olímpico e fico de queixo caído! Não imaginava que fosse tão grande! Apesar de postar as fotos, vocês não terão a proporção do que é aquilo. Acho que para cruzar de uma ponta a outra deve demorar uns 20 minutos. São várias arenas diferentes, para esportes diferentes, cada uma com arquitetura própria, com muito espaço para circulação e convivência, local para shows, praça de alimentação (achei engraçado ter praça de alimentação, porque quando vou para algo desse tipo, eu não como nada, mas vejo que as pessoas que não são esquisitas como eu comem!kkkk Tinham filas e filas apesar do tamanho da praça). Só no espaço da loja dos produtos da Rio 2016 dava pra construir duas quadras de basquete.

Ao começar a passear, como todos, fui tirando foto de tudo o que via, me sentia na Disneylândia kkkkkk, quase procurei o Mickey! Percebi também que estava um pouco deslocado do ambiente, todos de bermuda e camiseta e eu, com jeans, camiseta polo e… uma blusa de lã (porque tinha passado frio nas noites anteriores), numa noite de calor. Todos esportivos e eu parecendo o tiozinho da sukita! Encontrei com o Fábio e com o Albino, que estavam na área onde acontecia um show, com uma banda bem legal por sinal. Fiquei um pouco com eles, e fui finalmente assistir o jogo que me cabia. O clima do Parque Olímpico é contagiante, tem música, cerveja, comida, gente do mundo todo rindo o tempo todo, telões com provas que estão acontecendo.

Fora as intermináveis discussões sobre atletas e esportes. A paixão dos fisioterapeutas esportivos pelas modalidades olímpicas e pelos atletas é bonita de ver. Eu já fui um atleta quase profissional, de competir nos brasileiros e me sair bem mesmo tendo só 14 anos. Treinava Ginástica Artística (Olímpica na época). Da Ginástica Artística migrei para as artes marciais, daí para o Tai-Chi-Chuan, meditação e shiatsu, que foi o que acabou me levando para a fisioterapia. Dessa forma me afastei um pouco do esporte, mas ainda sou apaixonado por Ginástica Artística. Quanto aos outros esportes, sou menos familiarizado e perguntei sobre a partida que iria assistir.

Descobri que era um jogo de Handebol masculino entre Polônia e Croácia que foram 1º e 3º colocados no último mundial, ou seja um jogaço. Fui entrando na arena correspondente, tudo muito organizado, me sentei e começou o jogo!!! É interessante o handebol, parece uma mistura de basquete com futebol de salão. Olhando assim de cara, pude ver que eles não ficam batendo bola o tempo todo como o pessoal do basquete, o que já me pareceu um alívio, e podem até mesmo dar alguns passos com a bola na mão. Quando o time fica com a posse de bola parece que tem que fazer tipo uma coreografiazinha de jogar a bola um para o outro por um tempo, depois eles têm que trombar com a linha dos adversários e daí arremessar contra o gol. No início eu achava que era um goleiro que ficava ali para defender, mas como toda vez ele ia para um lado e a bola para o outro eu cheguei à conclusão que ele devia estar tentando na verdade se desviar da bola e que o jogo é uma espécie de queimada mais elaborada. kkkkkkkk

Jogo terminado decido ir para a loja da Rio 2016. A loja é gigantesca e tem muita coisa para ver, algumas coisas meio bregas, outras meio sem graça, muitas bem legais e TODAS muito caras! Por conta do preço, não fui pegando nada de cara, depois pensei: “Quer saber, é um evento único, nunca mais vai ter outro desse no Brasil, tenho que aproveitar!”. Daí comecei a encher a sacola sem dó, era olhar e coletar, olhar e coletar, até que num determinado momento bateu uma crise do tipo: “Peraí, eu não preciso de nada disso e estou entrando na onda do consumismo, quer saber, não vou comprar é nada!!!”. Esvaziei as sacolas, fui indo em direção da saída e olhando pra tudo aquilo de novo e pensando: “Poxa, pelo menos alguma lembrança seria legal levar para a Claudia e para os meninos…”. Peguei uma sacola de novo…para, no final, decidir que vou ligar pra Claudia e ela me dizer o que comprar ou não! Muito mais fácil! kkkkkkkkk

Voltei pra pro apartamento, contente por ter podido conhecer o Parque Olímpico e por assistir pelo menos um jogo, mas não quero outro dia de folga não, quero estar lá na policlínica tratando dos atletas. É lá onde me sinto mais eu, onde me encaixo. Pra terminar, só dizer que está sendo o máximo para mim escrever essas crônicas. O carinho das pessoas que estão acompanhando é muito legal! As visualizações, curtidas e comentários estão diminuindo e não sei se é porque estou escrevendo pior, ou porque já deixou de ser novidade, mas mesmo assim continuo, porque está me fazendo muito bem.

Aprendo com os comentários por um lado e por outro, ao poder falar e brincar de questões pessoais minhas em público, é como se fosse deixando escapar um pouco da pressão interna que sempre me coloquei. Na ânsia de parecer bom, sempre tentei esconder as falhas e isso só sobe essa pressão. Por muito tempo, me senti uma fraude, parecia que as pessoas me viam muito melhor do que sou e eu ficava preocupado em sustentar essas expectativas. Acho que o bom da idade é isso, vamos percebendo que a opinião do outro vai aos poucos deixando de ser nossa preocupação principal, apesar do olhar do outro ser importante e muitas vezes nos dar o feedback que precisamos, o poder ver-se amorosamente, aceitando quem somos em nossas qualidades e dificuldades, vai nos despindo pouco a pouco do ego.

Nenhuma descrição de foto disponível.

06

As rotinas de ida e vinda no BRT já estão dominadas, prova cabal de que a prática melhora o desempenho até dos distraídos como eu. Porém, como temos muitos aspectos na vida que são diferentes, temos muito o que praticar. Ontem tive nova prova disso com uma nova gafe!!! Cheguei mais cedo à Vila Olímpica, (uhuuu!) e pude dar uma volta por toda ela. Está muito bem montada, pois vai ser um condomínio com apartamentos de valor bastante alto.

O clima na Vila é diferente de qualquer coisa que eu já tenha vivido, é uma mescla de normalidade com excepcionalidade. Em alguns momentos, parece que é simplesmente um domingo no qual os condôminos estão fazendo suas caminhadas ou atividades de lazer, em outros, você vê grandes movimentações, gritos de guerra, música rolando e até micro desfile de escola de samba eu vi por lá. Porém o que mais chama a atenção é o de cruzar com atletas que você viu na televisão nos dias anteriores. Como disse anteriormente, os outros fisioterapeutas que estão por aqui são apaixonados por esporte e conhecem todos os atletas, sabem que modalidades praticam, seu lugar no ranking, a escala dos jogos e tudo o mais. Este pobre mortal aqui fica perdido no meio disso tudo.

Durante o passeio conversei com um membro da equipe do Time Brasil, que faz parte da equipe de saúde e que é também membro da nossa equipe da Escola de Osteopatia de Madrid. Essa pessoa é o famoso Luiz H Kaiser Martins, osteopata de muita experiência, que já tem larga história de trabalho com atletas e que é uma das pessoas com maior coração que conheço. Ele me levou para conhecer o edifício do Time Brasil e foi muito interessante perceber como nossos atletas estão com um excelente suporte em todos os sentidos. Conheci toda a instalação e deixo os detalhes disso para outra crônica, pois vale a pena.

Na volta, parei para tirar mais algumas fotos e, como estava ruim para fazer uma selfie, vi um rapaz com cara de simpático que estava passando e sinalizei com a câmera para ele que foi se aproximando. Perguntei se ele poderia tirar uma foto minha, ele me olhou com certa cara de surpresa, sorriu e tirou minha foto, agradeci, nos despedimos e 15 minutos depois descubro que era um atleta super famoso que tinha ganhado ouro nas olimpíadas!!! Não posso dizer o nome do atleta, mas imagino que para ele a situação tenha sido insólita. 

Acho que ele gostou mais de ter tirado minha foto do que se eu quisesse tirar foto com ele, afinal, devia estar cansado de posar para fotos e estava com um sorriso de orelha a orelha quando se despediu. (devia estar gargalhando por dentro, pensando essa besta não me reconheceu!!!). Bom, gafes à parte, ontem valeu para mim, por sentir o reconhecimento e o carinho pelo trabalho que venho desenvolvendo. Segundo o médico da delegação Egípcia, estou “famoso” na delegação deles. Com isso, ele acaba trazendo várias pessoas para que eu atenda, às vezes em horários já de finalização do serviço, e os colegas da policlínica já começaram a brincar e dizer que vão me levar para o Egito! kkkkk

Eu sei que trabalho direitinho, mas de qualquer forma é bom sentir que meu trabalho está sendo apreciado e valorizado. Pra fechar com chave de ouro o dia, atendi um atleta de Wrestling, não o mesmo que citei em outra crônica, ao final da sessão, quando ele disse que já não sentia mais dor nenhuma disse que eu precisava fazer uma última manobra. Pedi que ele se deitasse de barriga para cima, dobrasse as duas pernas e abrisse os braços. Para surpresa dele, deitei sobre ele segurando braço e perna na posição de finalização do wrestling e perguntei: “Who is the champion now?” Ele quase me derrubou da maca de tanto rir. Tem 1,95 é forte que dá medo e um sopro mais forte me derruba. Depois do agendamento, na hora de ir embora, ele se despediu sorrindo e dizendo: “Bye champ!” É esse o espírito que vemos na policlínica, companheirismo, dedicação e descontração. Não contem pra ninguém, mas se ele estivesse lutando contra um brasileiro hoje acho que torceria por ele… ops!!!

 07

O Dia amanheceu encoberto e com chuva fina, pode ter sido só uma manifestação climática ou talvez algum deus do Olimpo triste pelo término das olimpíadas. Cada um que fique com a versão que lhes apeteça. Pelas ruas, menos sorrisos, menos correrias e gargalhadas também, dentro de cada um, um certo sentimento de despedida e de pesar. Em outro texto, eu já havia comentado sobre os voluntários e suas medalhas, os famosos Pins, mas por estar meio “trancado” na policlínica esses 12 dias, eu não tinha idéia da dimensão de tudo isso. Ao chegar na Vila Olímpica, antes de entrar, encontrei um senhor estrangeiro na rua com uma espécie de tabuleiro de Pins. Ele trocava e comprava, mas não vendia! Me dei conta que ele fazia uma coleção de Pins dos Jogos 2016!

Quando entrei, comentei sobre isso com os colegas e me disseram que isso é frequente, que existem várias pessoas fazendo isso nas arenas e rola quase que um mercado negro de artigos das olimpíadas. Começaram a me mostrar fotografias de casacos dos voluntários sendo vendidos por R$ 900,00 em bancas de Copacabana, pessoas no metrô querendo comprar camisas dos voluntários por R$ 400,00 ou R$ 500,00 e assim por diante para tudo que tenha a marca e tenha sido utilizado durante as olimpíadas. Refletindo sobre o tema, cheguei a conclusão de que, ao fazer isso, estão tentando se apossar um pouco do espírito e da mística que permeiam os jogos. 

Imagine pessoas especiais espalhadas pelo mundo, que são especiais por sua dedicação e performance corporal, que estão cada dia devotadas a ser mais rápidas, mais fortes, mais ágeis, mais elásticas, com melhor coordenação, pontaria, percepção, em resumo a fazer mais e melhor em um nível quase insano.  Agora imagine milhares dessas pessoas reunidas em um mesmo local, cercadas por equipes de apoio e por outros milhares de fãs e curiosos que estão aí para ajudá-los a nos impressionar! Impossível não modificar algo no campo magnético desse local, que a energia não fique diferente, e que com isso as pessoas acabam se conectando com algo que não estão acostumadas.  Quando estamos aqui vamos sendo contaminados, queremos ver o espetacular, mesmo que não sejam os atletas de nossos países.

Acho que é justamente essa sensação, esse sentimento de algo incrível que as pessoas não querem perder e, por isso, compram tanto, tiram tantas fotos, chegando muitas vezes ao exagero e ao ridículo. Me lembro de uma vez, que durante uma apresentação na escola dos meus filhos, que fiquei tão obcecado em gravar a apresentação para registrar, para eternizar, para não “perder” e poder ver tantas outras vezes depois, que acabei não assistindo direito!!! Desde então, decidi que a imagem mais importante para mim seria a imagem gravada na retina, diretamente em meu cérebro, coração e alma. Acho que é a única forma de exercitar o estarmos “presente”. Tantas dores, conflitos e sofrimentos nascem de estarmos vivendo no passado ou no futuro que quero tentar não fazer isso. Não é nada fácil…

Assim que depois de muito refletir estou pensando em vender tudo o que ganhei no voluntariado, que no mercado negro deve estar valendo por volta de uns R$ 4.000,00 e voltar pra casa pelado com a mão no bolso. rsrsrsrsrsr. Quem sabe é uma forma de minimizar o gasto que temos para participar de tudo isso. O voluntário, no final das contas, é meio maluco. Tem que pagar passagem, hospedagem, alimentação e alguns transportes, além das duas semanas que estamos, no caso dos voluntários da saúde, deixando de ganhar no consultório. Assim não é para qualquer um, apenas para os que estão com o firme propósito. No final vale tudo a pena!!!

Hoje, por exemplo, ao iniciarmos os trabalhos, reunimos as pessoas que estavam na policlínica e além do espaço para agradecimentos e parabéns houve espaço também para abraços e lágrimas. Naquele momento, estávamos na energia desses atletas sobrehumanos, nos dávamos conta dos nossos próprios esforços, méritos, lutas, quedas, superações, paixões e conectar-se com tudo isso gera transformações profundas e desentope canais que nos fazem ver uma beleza que emociona. Assim foi. Em seguida, a isso, chegam praticamente ao mesmo tempo cinco pacientes para serem atendidos, dois do Comitê Olímpico do Egito, uma atleta do Marrocos, uma médica da Tunísia, um cinegrafista da Grã-Bretanha e além disso um técnico da Armênia que apareceu por lá só para agradecer os atendimentos recebidos assim como um atleta do Egito.

Sem a ajuda dos outros fisioterapeutas, que estavam presentes, viram meu aperto e foram mais que solícitos em ajudar, teria sido impossível lidar com a situação. Igualmente bom a ter o reconhecimento desses pacientes, foi ter o carinho, cuidado e atenção dos colegas. Como já disse antes, o espírito da Policlínica era de aplaudir. Com tudo isso, todo o cansaço dos dias anteriores desaparece e a disposição é a de “Que venha o próximo!”.

Foram bastante intensos esses dias!

Passe lá no Instagram da EOM para nos contar o que achou da leitura! 

EOM Brasil - A Maior e mais conceituada escola de osteopatia do mundo

Comece sua jornada em direção a uma carreira de sucesso na área da saúde

Comece sua jornada em direção a uma carreira de sucesso na área da saúde

A osteopatia é uma carreira de saúde para profissionais que querem melhorar seus resultados clínicos e fazer a diferença positiva na vida do paciente. Quando o raciocínio osteopático é aplicado, ganha o paciente, que se vê livre mais rapidamente dos seus sintomas, e o fisioterapeuta, que cresce muito profissionalmente e pessoalmente.